sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

De São José para a elite mundial

Depois de passar por momentos difíceis com a divulgação de casos de doping, além de dificuldades financeiras para organizar competições e manter instalações esportivas, o ciclismo nacional tem um motivo para comemorar. A equipe Scott/Marcondes César, de São José dos Campos, conseguiu ser escolhida pela União Ciclística Internacional (UCI) para integrar a seleta categoria Profissional Continental. Com isso, o Brasil, pela primeira vez na história, tem um grupo apto a receber convites para eventos de elite como a Volta da França, o Giro da Itália e a Volta da Espanha


O técnico e diretor do time do Vale do Paraíba, José Carlos Monteiro, o Carlinhos, conta que o reconhecimento foi resultado de três anos de trabalho e R$ 40 mil de investimento para fornecer todas as informações exigidas pela UCI para conceder o credenciamento. “Nossa intenção era conseguir o status Profissional Continental no ano passado, mas ficou difícil por causa da crise econômica que abateu o mundo no final de 2008″, comenta. “Muitos patrocinadores preferiram adotar conduta mais cautelosa em 2009 e, por isso, tivemos, de adiar o cronograma”, acrescenta. “Mesmo assim, fizemos muitos sacrifícios para que o projeto continuasse.”

Carlinhos explica que a UCI é bastante exigente na hora de liberar o “passaporte”. “Tivemos de mandar muitos documentos com nossos resultados em provas internacionais, informações sobre nossos atletas, além de garantias financeiras.” O esforço, no entanto, deu resultado, e a entidade máxima do ciclismo internacional deu um voto de confiança à equipe. Nas Américas, além dos representantes de São José, apenas a BMC Racing, dos Estados Unidos, e a Androni Giocattoli, da Venezuela, estão credenciadas como equipes Pro Continental.

Mas o que significa ter tal credenciamento? Os times de elite, que abrigam os melhores atletas do mundo, fazem parte da categoria Pro Tour – estão automaticamente habilitados a participar das principais provas do calendário internacional, como a Volta da França, o Giro da Itália e a Volta da Espanha. Porém, pelo regulamento, a UCI exige que os organizadores de cada um desses eventos convidem quatro equipes com rótulo Profissional Continental. É uma forma que a entidade encontrou para incentivar o progresso de outros times.

Realidade
A classificação Profissional Continental serviu como motivação para todos da equipe de São José dos Campos, porém Carlinhos sabe que esse é apenas o primeiro de muitos passos a serem dados por seu grupo. Hoje, o nível do esporte no Brasil é muito inferior ao das principais potências (Espanha, Itália e França), de forma que antes de pensar em disputar posições contra os principais atletas do mundo é preciso atingir um nível de competitividade que o País ainda não tem. “Por isso, nosso principal objetivo para a temporada é terminar o ano como líderes do ranking das Américas. Um passo de cada vez”, explica. A partir de segunda-feira, o grupo disputa a Volta de San Luis, na Argentina, que vale pontos para definir a melhor equipe do continente.

O fato, no entanto, não quer dizer que eventos na Europa estão descartados para 2010. Ao contrário. “Representantes de agências europeias virão ao Brasil até o fim do mês para que possamos definir nosso calendários de provas. Pretendemos disputar duas ou três competições na Itália ou na Espanha nesta temporada”, conta Carlinhos. Esses agentes também deverão ajudar a equipe a captar recursos. Nas contas do diretor do time de São José dos Campos, serão necessários R$ 6 milhões para a temporada. “Precisamos captar mais R$ 1,5 milhão para complementar nosso orçamento. Estamos em busca de mais patrocinadores.”

Responsabilidade
A notícia do credenciamento do time de São José foi comemorada pela Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC), mas o técnico da seleção brasileira de ciclismo de estrada, Mauro Ribeiro, alerta que, com o progresso, as responsabilidades aumentam. “Ela (a equipe de São José dos Campos) será o cartão de visitas do País. É como diz o ditado: a primeira impressão é a que fica.”

Ribeiro afirma que, além das questões técnicas e esportivas, o time de São José dos Campos precisará se preparar para cumprir as exigências da UCI, que é uma entidade rigorosa. “São protocolos disciplinares, financeiros… Qualquer probleminha pode ter um impacto muito grande porque uma coisa é responder à CBC, outra à UCI, que é uma entidade internacional com sede na Suíça.”

Fonte: Estadão

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